Diabetes Mellitus tipo 2

Disciplina: Educação Física na idade adulta e no envelhecimento

Discente: Miriam Almeida Chiquetto
Docente: Harrison Moura


1 CONCEITO E DEFINIÇÕES


A Diabetes mellitus é uma condição crônica, causada por fatores hereditários e fenotípicos que fazem com que os níveis de glicose sanguínea se mantenham elevados. Isso pode ocorrer por deficiência na produção ou na ação da insulina, hormônio responsável pelo controle da glicose não possui insulina suficiente ou não responde normalmente à insulina (Szmuilowicz et al., 2019). Essa doença pode ser classificada em tipo 1, caracterizada pela destruição das células pancreáticas responsáveis pela produção de insulina; tipo 2 onde há uma diminuição na secreção da insulina e/ou resistência do organismo à sua ação; e gestacional que surge em mulheres normoglicêmicas durante a grevidez (Artasensi et al., 2020).

Em estágios iniciais, pessoas portadoras de Diabetes tipo 2 são assintomáticas em estágios iniciais, nas fases sintomáticas podem apresentar poliúria, polidipsia, polifagia, formigamento e perda de peso não intencional (Artasensi et al., 2020). Em casos crônicos da doença, pode ocorrer o surgimento de doenças cardiovasculares, nefropaticas, neuropaticas e  oculares (KHAN et al., 2019). 

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2 EPIDEMIOLOGIA


A Diabetes mellitus  é uma doença que se tornou mais comum nos tempos modernos e segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima-se que, até 2045, a faixa de adultos com essa condição supere os 700 milhões de habitantes no mundo. Com 90 a 95% do total de casos, a Diabetes mellitus tipo 2 é a mais comum dentre os tipos da doença, sendo os países emergentes e subdesenvolvidos responsáveis por 80% das ocorrências da enfermidade (Galicia-Garcia et al., 2020). Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes(SBD) estima-se que a prevalência da doença no Brasil seja de 10,5%, cerca de 20 milhões de pessoas.

Os grupos mais afetados pela Diabetes mellitus  tipo 2, são os moradores de zonas urbanas, homens e pessoas mais velhas, embora, todas as pessoas podem desenvolver essa condição. A Federação Internacional de Diabetes (IDF), em 2017, apontou 17,1 milhões a mais de homens diagnosticados do que mulheres.O Relatório Nacional de Estatísticas de Diabetes dos Estados Unidos da América, identificou que das pessoas abaixo de 44 anos, apenas 4% das pessoas tinham Diabetes mellitus. Esse percentual aumentou para 17% na faixa etária de 45-64 anos e para 25,2% acima dos 65 anos de idade. 

Além disso, o fator genético pode ser determinante, pois foi observado que pessoas com pais diabéticos tipo II apresentam um risco seis vezes maior de desenvolver a doença (Khan et al., 2019). No entanto, fatores como excesso de peso, sedentarismo e tabagismo podem aumentar significativamente a incidência da doença. Segundo Khan et. al, 50% das pessoas com Diabetes mellitus  tipo 2  também possuem obesidade e 90% dos diabéticos apresentam sobrepeso, sendo o sedentarismo um dos principais motivos para estes número. A nicotina causa uma diminuição na sensibilidade à insulina, sendo um fator de risco direto para o surgimento da doença.


3 FISIOPATOLOGIA

O diabetes é caracterizado por desequilíbrio na homeostase glicêmica, essencial para o funcionamento adequado de tecidos, células e enzimas, exigindo balanço entre temperatura, pH, osmolaridade e regulação hormonal. A insulina, principal regulador, equilibra a produção hepática de glicose com sua captação periférica. Após ingestão, a glicose é absorvida e internalizada pelas células β-pancreáticas via transportador GLUT2, sendo fosforilada pela glicoquinase em glicose-6-fosfato, que entra na glicólise, gerando ATP. O aumento de ATP inibe canais de K+ sensíveis, despolarizando a membrana e ativando canais de Ca2+, promovendo exocitose de insulina e peptídeo C, derivados da pró-insulina (Galicia-Garcia et al., 2020).

Incretinas, como GIP e GLP-1, produzidas por células K e L intestinais, potencializam a secreção de insulina, inibem glucagon, estimulam proliferação de células β e reduzem apetite via mecanismos neuro-humorais. A enzima DPP-4 degrada GIP e GLP-1, promovendo apetite e secreção de glucagon (Artasensi et al., 2020). No fígado, músculo esquelético e tecido adiposo, a insulina ativa receptores, mobilizando GLUT4 para captação de glicose. No fígado, estimula glicogênese, inibe gliconeogênese e promove lipogênese; no músculo, favorece glicogênese e síntese proteica; no tecido adiposo, inibe lipólise e estimula armazenamento de triacilgliceróis (Khan et al., 2019; Galicia-Garcia et al., 2020).

A patogênese do diabetes tipo 2 envolve herança multigênica e fatores ambientais, como dieta hipercalórica, sedentarismo e hipercortisolismo. Antes da hiperglicemia, observa-se hiperinsulinismo compensatório e resistência periférica à insulina, evoluindo para falha das células β (Jing et al., 2018). Complicações crônicas, como danos vasculares, aumentam riscos de infarto, derrame, insuficiência renal e retinopatia, exigindo intervenções como dieta saudável, com baixo teor de carboidratos refinados e gorduras saturadas, além de terapias que otimizem a ação ou substituição da insulina.

4 ABORDAGEM MULTIDISCIPLINAR

A modificação no estilo de vida é de extrema importância para os portadores de Diabetes Mellitus tipo 2, por isso, é necessário a atuação de diversos profissionais como o médico endocrinologista, psicólogo, nutricionista e educador físico (Pieper , 2023). 

O acompanhamento médico é fundamental, para o monitoramento do paciente diabético , uma vez que, os portadores dessa condição possuem outras comorbidades e maior risco e, caso necessário, realizar uma intervenção medicamentosa (Sartor et al., 1980); o sobrepeso e a obesidade são um fator comum em pacientes com Diabetes Mellitus tipo 2, uma abordagem psico-cognitiva é necessária para o tratamento de eventuais compulsões alimentares que possa ocorrer; empregar uma dieta hipocalórica e balanceada é importante para prevenir e tratar os pacientes diabéticos, visitas frequentes ao nutricionista são recomendadas para atender as necessidades do paciente (Silvia  et al., 2023); o educador físico, é fundamental como parte da modificação no estilo de vida desse paciente, pois é fato que o exercício é um aliado importante na profilaxia e tratamento da Diabetes Mellitus tipo 2 (Tuomilehto et al., 2001).


5 BENEFÍCIOS DO EXERCÍCIO FÍSICO


Uma mudança significativa no estilo de vida pode trazer impactos favoráveis ou até mesmo a cura para pacientes portadores de Diabetes Mellitus tipo 2, uma vez que o sedentarismo, sobrepeso e obesidade estão relacionados com os altos índices glicêmicos( McLELLAN et al., 2007).

A implementação de exercícios físicos na rotina diária dos pacientes diabéticos foi avaliada em alguns estudos, e foi observado a redução de peso (5 a 10% do peso inicial), melhora na função endotelial, impacto positivo no sistema fibrinolítico( Melin et al.; Balkestein et al.; Hamdy et al., Esposito et al.). 

Silva (2002), relatou que os pacientes participantes do estudo, relataram subjetiva melhora em algumas queixas após o início do programa, como depressão; sono (insônia); dores nos membros inferiores; maior sensação de bem estar; e melhor relacionamento social. Além disso, os níveis de Colesterol HDL melhoraram significativamente, houve melhora na eficiência cardíaca e diminuição da frequência cardíaca.

6 PRESCRIÇÃO DE EXERCÍCIO

O princípio FITT (Frequência, Intensidade, Tempo e Tipo) orienta a prescrição de exercícios, definindo a "dose" necessária para benefícios à saúde. A frequência de exercício aeróbio é recomendado de 3 a 5 dias por semana para a maioria dos adultos, com uma frequência que varia com a intensidade do exercício (HASKELL et al., 2007; NELSON et al., 2007; GARBER et al., 2011). 

A Intensidade aeróbica é medida por alterações nos parâmetros fisiológicos, incluindo aumento no consumo máximo de oxigênio (VO2 máx) e frequência cardíaca, com prescrições baseadas em % da frequência cardíaca máxima ou reserva, podendo ser de baixa intensidade (<40% frequência cardíaca reserva), intensidade moderada (40–59%  frequência cardíaca reserva) e vigorosa (60–84% frequência cardíaca reserva). No entanto, o limiar mínimo de intensidade para que haja benefício pode variar dependendo de fatores, como o nível de aptidão cardiorrespiratório individual, a idade, o estado de saúde, diferenças genéticas, o nível de atividade física habitual e, também, alguns fatores sociais e psicológicos (SWAIN; LEUTHOLTZ, 1997; SWAIN; FRANKLIN, 2002).

A duração recomendada dos exercícios recomendada para  a maioria dos adultos acumule 30 a 60 min/dia (≥ 150 min/sem) de exercício de intensidade moderada, 20 a 60 min/dia (≥ 75 min/ sem) de exercício de intensidade vigorosa ou uma combinação de exercício de intensidade moderada e vigorosa por dia para a obtenção dos volumes recomendados de exercício (GARBER et al., 2011; ACSM, 2016). Por fim, o tipo da atividade física resultam na melhora e aptidão cardiorrespiratória, eles devem ser escolhidos com base no capacidade funcional, interesse do paciente, disponibilidade de tempo, disponibilidade de equipamentos e instalações e metas individuais ou combinadas entre o paciente e a equipe multidisciplinar (NIEMAN, 2011). 


Tipo de Exercício 

Frequência de Treino  

Duração por Sessão 

Principais Benefícios 

Caminhada rápida 

5 dias por semana 

 

30 minutos 

 

Melhora a sensibilidade à insulina, reduz a glicemia 

 

Exercícios de 

resistência 

2- 3 dias por semana 

20-30 minutos 

Aumenta massa muscular, melhora metabolismo da glicose 

Alongamento 

Diariamente 

10-15minutos 

Previne lesões, melhora flexibilidade e circulação 

Treinamento intervalado leve 

2 dias por semana 

15 a 20 minuto 

Reduz rapidamente a glicemia e melhora a capacidade 

Yoga e Pilates 

2-3 dias por semana  

30 a 60 minutos 

Reduz o estresse melhora controle glicêmico e equilíbrio 

Bicicleta (estacionária ou ao ar livre) 

3 dias por semana 

30 minutos 

Ajuda na perda de peso, melhora a glicemia e cardiovascular 



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